Você contrataria este engenheiro?

Auto-retrato de Leonardo da VinciHá uma suposição muito comum entre as empresas, mas também entre os profissionais em processo de construção de carreira, de que, “se formos bons naquilo que fazemos, o mercado acabará por descobrir”. Na frase, muito citada, que se atribui a Ralph Waldo Emerson, “build a better mousetrap, and the world will beat a path to your door”.

Infelizmente, na vida real, as coisas não se passam assim. Não basta ser o melhor. Não basta nem sequer ser um génio naquilo que se faz – é preciso convencer disso os potenciais clientes. E aí, ai do génio que não saiba, além de fazer o que faz, vender o seu peixe.

A história está cheia deles – desde os que só fizeram sucesso depois de mortos (os Van Gogh, os Modigliani, os Fernando Pessoa) até aqueles, provavelmente muito mais numerosos, de quem nunca ouvimos nem ouviremos falar.

Mas é óbvio que também há muitos exemplos do contrário. Talentos tão completos que não cuidam só do produto, mas do seu marketing. Picasso foi um deles. Leonardo da Vinci, outro.

O documento que transcrevo abaixo é uma carta de apresentação do então jovem Leonardo ao duque de Milão, Ludovico Sforza. Uma boa carta de apresentação, não tanto pela quantidade de argumentos que o candidato enumera para a sua contratação, mas pelos que omite.

Como sabemos, da Vinci poderia ter dito muito mais. Poderia falar das suas habilidades como botânico, zoólogo, músico, cozinheiro, etcétera etcétera. Se tivesse uma carta de candidatura padrão, que enviasse a todos os potenciais patronos, teria que falar de tudo isso. Mas, tendo feito o seu trabalho de casa, sabia que aquele cliente estava principalmente interessado em fazer a guerra. É disso, então,  que a carta trata: engenharia militar, máquinas de guerra, armas, tudo o que fosse preciso para massacrar o máximo de inimigos. Só no último ponto Leonardo fala da sua habilidade para fazer esculturas e “pintar quadros, tão bem como qualquer outro”.

Modéstia? Nem por isso. Foco.

Estudar o potencial cliente ou recrutador, analisar as suas necessidades, compor a mensagem em função delas. Centrar-se não em si próprio, mas naquilo que interessa ao meu cliente. Funcionou para Leonardo. Por que não funcionaria para si?

A seguir, a carta:

Carta de apresentação de Leonardo ao duque Ludovico SforzaIlustríssimo Senhor, esforço-me em dar explicações a Vossa Excelência sobre os motivos que me levam a solicitar a minha incorporação sob a protecção do Duque, para assim desenvolver todas as invenções realizadas por mim e que poderiam ser úteis numa batalha.  Estou disposto a fazer experiências em sua casa, ou em qualquer lugar que agrade a Vossa Excelência.

  1. Tenho um tipo de pontes leves e resistentes, fáceis de transportar e que permitem ao mesmo tempo perseguir e fugir do inimigo, e são seguras e indestrutíveis pelo fogo e pelas armas de batalha, fáceis de montar e desmontar, e tenho métodos para destruir as do inimigo.
  2. Quando um lugar é assediado, sei apanhar água do outro lado das trincheiras com pontes e máquinas apropriadas para cada expedição.
  3. Se o assédio resulta impossível por causa da fortaleza ou a posição do grupo inimigo, tenho métodos para destruir cada pedra ou outras fortalezas inclusive se o grupo estiver escondido numa rocha.
  4. Tenho várias classes de morteiros, apropriados a cada situação e fáceis de carregar, desde os que explodem pedras simulando uma tormenta aos que soltam uma fumaça que causa terror e confusão no inimigo.
  5. Se a batalha for no mar, tenho vários tipos de armas muito eficazes para o ataque e a defesa e barcos que resistem ao ataque de grandes canhões.
  6. Sei o modo de superar caminhos tortuosos sem fazer ruído inclusive se há que passar por uma trincheira ou um rio.
  7. Tenho carroças cobertas, seguras e impossíveis de atacar que podem se mover entre a artilharia inimiga sem que ninguém as possa romper e sem que se registem baixas.
  8. Se houver necessidade, fabricarei armas e morteiros diferentes dos habituais.
  9. Se a operação de bombardeio falhar, inventaria catapultas, trabucos e outras máquinas de máxima eficácia e de uso pouco comum. Ademais, segundo o caso, posso inventar artigos de ataque e defesa.
  10. Em tempos de paz acho que posso conseguir os mesmos resultados que qualquer outro em arquitectura e desenhos de plantas de edifícios públicos e privados e realizar sistemas de distribuição de água.
  11. Posso fazer esculturas em mármore, bronze e argila e posso pintar quadros, tão bem como qualquer outro.

(Fonte: cenedella.com via www.mdig.com.br)

Jayme Kopke

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Categorias:
Business to business, Comunicação interna e RH
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