Deep Work: o convite a uma vida mais profunda

Não sei se é assim com toda a gente. Mas, pelo menos no meu caso, não é comum uma leitura sobre um tema tão prosaico como a gestão do tempo ser uma fonte de inspiração e entusiasmo que perdura mesmo depois de terminada a última página. Com Deep Work, de Cal Newport, foi diferente.

A primeira vez que ouvi falar do livro foi no episódio que gravei com o Ricardo Parreira, CEO da PHC, para o Marketing Business-to-Business – o Podcast. Como as indicações dos nossos convidados no podcast costumam ser muito boas, o livro logo entrou na minha lista. Demorou um pouco até a fila chegar aí, mas finalmente aconteceu.

E como valeu a dica! Acabou por ser daquelas leituras que mudam algo na nossa vida.

Mais do que um manual de gestão do tempo

Para mim, o melhor do livro nem são as sugestões muito concretas – que ele traz, e são boas – para tirarmos melhor partido do nosso tempo. Bem mais interessante, a meu ver, é a apaixonada defesa que o autor faz das razões de ser desse esforço.

Razões que nem sequer são grande novidade . Quem não sabe que vivemos num mundo onde é cada vez mais difícil a concentração, o foco continuado, a imersão num assunto, numa tarefa, no momento presente? Quem ainda não constatou que a facilidade das comunicações, a profusão dos estímulos, a pressão para reagir na hora – responder ao email, comentar a notícia, pôr um like em tudo o que se mexe –, tudo isso nos suga a atenção e, quando vamos ver as horas, elas deslizaram por nós sem deixarem rasto?

O problema é que saber é uma coisa. Mudar é outra. O que o livro faz, com argumentos científicos e ótimas histórias, é, primeiro, alarmar-nos quanto ao que estamos a fazer à nossa vida. Não só ao escasso tempo que temos neste mundo mas até ao nosso cérebro, cujas capacidades toda essa dispersão acaba por ir atrofiando.

Trabalho raso, trabalho profundo

Depois de dramatizar o problema, o passo seguinte é seduzir o leitor com a perspectiva contrária: a de uma vida menos dispersa, mais produtiva, com os tremendos benefícios que isso pode trazer não só em termos profissionais, mas para a nossa realização e felicidade.

O caminho para esse objetivo é o que o autor chama de “deep work”.

Para mim, se mais nada ficasse da leitura deste livro, provavelmente já bastaria a distinção que ele faz entre “deep” e “shallow work” – trabalho profundo e trabalho raso. O primeiro é aquele que exige muita concentração e pode levar ao limite as nossas capacidades. O outro, aquelas coisas a que dedicamos tanto dos nossos dias: responder a emails, passar números de uma tabela para outra, matar tempo em reuniões que, espremidas, bem podiam não ter acontecido.

Se tivesse de sintetizar o que aprendi em Deep Work, diria isto:

  1. Identifique, na sua vida, o que é “trabalho profundo” e o que é “trabalho raso”.
  2. Faça tudo para aumentar o tempo que dedica ao primeiro.
  3. Crie uma muralha, com arame farpado por cima, à volta desse tempo, e defenda-o com todas as suas forças.

Em três frases, é isto. Mas duvido que estas três frases tenham em si o efeito que tiveram em mim as 200 e tal páginas do livro. Quando o fechei, deixando alguns trechos marcados para voltar a eles com mais calma, estava realmente com ganas de mudar ou reforçar alguns hábitos, criando rituais e rotinas para proteger o meu trabalho mais valioso.

Uma vida menos dispersa e mais profunda tem, pelo menos para mim, um imenso apelo emocional. Leia o livro e depois diga-me se não lhe aconteceu o mesmo.

Jayme Kopke

Categorias:
Fluxo de trabalho, gestão, livros
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