As 1001 noites, uma birra e o destino da sua empresa
A gente vem a ouvir rádio no trânsito e o pensamento começa a viajar.
Para mim, há uns dias, a viagem começou com uma crónica do Carlos Vaz Marques na TSF sobre o Livro do Dia. O desse dia, que fiquei cheio de vontade de comprar, foi uma tradução das 1001 noites originais – sem o Aladino, o Sinbad e o Ali Babá, que, apesar de serem as histórias mais conhecidas, são acrescentos ocidentais, que não constavam da compilação árabe.
Não sei se acontece consigo, mas a mim (e a milhões de leitores desde que o livro foi introduzido na Europa, no século XVII), a história de Sherazade e da sua estratégia de sobrevivência põe logo a fantasia a funcionar. É ou não irresistível a ideia de uma condenada à morte que, para sobreviver, vai encantando com narrativas, noite após noite, o seu verdugo?
Hoje, no entanto, provavelmente porque era nisto que já vinha a pensar, Sherazade fez-me lembrar foi na sua empresa. E ao mesmo tempo numa coisa com que embirro, que é o tal do “storytelling”.
Pense nisso: “storytelling” quer dizer o quê, ao certo? Quer dizer “Contar histórias” – algo que a língua portuguesa consegue perfeitamente expressar. O facto de aparecer em inglês, e ser apresentada por uns e por outros génios do marketing como uma coisa nova, uma descoberta que veio mudar tudo, é o exemplo acabado da mistificação. Areia deitada para os nossos olhos. Ou, se quisermos, “dustthrowing”. Fica ou não mais chique, assim em inglês?
O que a princesa Sherazade nos vem lembrar é que o dito storytelling, como estratégia de sedução, é velho como as 1001 noites. E se as suas histórias continuam a encantar-nos, é porque a estratégia não perdeu, com os séculos, nem um grama da sua eficácia.
O marketing e a publicidade também não descobriram isto ontem. Souberam-no sempre – e foi sempre com grandes histórias que fomos seduzidos a gostar de grandes marcas.
De Sherazade para a minha birra, como vê, a viagem do meu pensamento foi curta – e daí para a sua empresa, mais curta ainda.
Ter boas histórias para contar, e assim manter encantado o seu cliente, é para a sua empresa o mesmo que para a nossa princesa: uma questão de sobrevivência. Como o rei da narrativa árabe, o seu cliente tem poder de vida ou de morte sobre o seu negócio. Agarre-o com uma boa história, e a promessa de outras, ainda melhores, amanhã, e ele manterá a sua marca viva (e próspera) por muito mais do que 1001 noites.