O futuro da comunicação: quem arrisca uma aposta?

10 de julho de 2020
Por Jayme Kopke

Há uns dias fui ver, ali no Terreiro do Paço, uma exposição chamada “Futuros de Lisboa”. Consagrada, como o nome diz, aos exercícios de futurologia que ao longo do tempo se foram fazendo sobre a cidade.

Uma ilustração do início do século 20, por exemplo, fantasiava a Lisboa do ano 2000:  uma cidade muito vertical, atravessada por imensas pontes e viadutos, sobre os quais circulariam… comboios a vapor.

Noutras fantasias, já dos anos 60, o futuro deitava menos fumo: o transporte preferido dos lisboetas do ano 2000 seriam os carros voadores.

Prever o futuro sempre foi uma atividade de alto risco. Como estas Lisboas imaginárias mostram, a tendência é projetarmos o amanhã como uma recombinação do que conhecemos hoje. Conhecemos comboios, imaginamos o futuro com mais comboios. Conhecemos carros e aviões, fantasiamos automóveis alados.

Mas como antecipar, com os dados de 1900 ou de 1960, uma cidade como a de 2019, em que toda a gente continua a andar a pé, só que a chocar contra os postes, porque tem os olhos grudados num telefone de bolso?

Lisboas Imaginárias

O mais prudente, por isso, é contermo-nos nas previsões. Ainda mais com a experiência das últimas duas décadas, em que as transformações foram tão rápidas – especialmente na comunicação – quanto surpreendentes. Há 20 anos, quem adivinharia um mundo dominado pelo Facebook ou pelo Baidu?

Podemos apostar, claro, em tendências muito gerais. Por exemplo: adivinho que a quantidade de informação continuará a crescer bem mais do que a nossa capacidade de absorvê-la. Logo, a disputa por uns segundos da nossa atenção será, no futuro, ainda mais acirrada do que hoje.

Outra previsão fácil: nesta guerra por atenção, a tecnologia terá um papel ainda maior. Com sorte, levará com cada vez mais precisão as mensagens certas às pessoas certas, tornando a comunicação de marketing ao mesmo tempo menos intrusiva e mais eficaz.

Fonte: GreenMedia

Mas, pelo menos enquanto a humanidade não for trocada por uma raça de cyborgs, encontrar e formular essas mensagens não será uma tarefa que algum algoritmo consiga desempenhar. Teremos que ser nós a fazê-lo. E contando com os mesmos instrumentos que nos têm valido há milénios.

Relevância. Empatia. Capacidade de perceber quem está do outro lado. E de contar histórias que despertem emoções: medo, curiosidade, surpresa, inveja, cobiça… Os velhos motores que acompanham a humanidade desde sempre. E que, seja qual for a próxima revolução tecnológica, continuarão a ser centrais na comunicação.

Para quem trabalha neste mercado, a consequência é simples. Temos de continuar atentos a tudo o que não para de mudar – e que é escusado tentar prever. Mas sempre com a consciência de que, no essencial, o nosso trabalho não muda. Mesmo quando falamos em nome de empresas ou marcas, somos humanos a criar laços com outros humanos. Falando-lhes a emoções que são as mesmas desde o início dos tempos. E que não se prevê que venham a mudar.

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