A fórmula do sucesso? Neste caso, é mesmo
O título parece o de um livro de auto-ajuda, e em certa medida até pode ser lido assim. Mas o principal interesse de The Formula – the five laws behind why people succeed não está aí.
O que o livro desvenda são os mecanismos sociais que favorecem o sucesso, seja de uma pessoa, de uma canção ou de um artigo científico. Mesmo que a aplicação prática das tais cinco leis não seja óbvia nem imediata, o caminho para o sucesso, depois desta leitura, deixa de ser um enigma. Recomendo vivamente – e neste post explico porquê.
Se não fosse por quem indicou – o Nuno Araujo, no episódio que gravei com ele para Marketing Business to Business:o podcast – provavelmente nunca teria comprado este livro.
O título, a meu ver infeliz, pode levar a uma ideia errada sobre o conteúdo. The Formula – the five laws behind why people succeed poderia parecer mais um livro de autoajuda com uma receita fácil para vencer na vida. O que, tirando o “fácil”, em certa medida até é. Mas com algumas diferenças importantes em relação aos manuais de sucesso habituais.
Albert Laszló-Barabási é um físico que se especializou na ciência das redes, e foi por aí que chegou ao interesse pelo sucesso – ou melhor: pela sua distribuição tão desigual. O que faz com que um artista, um atleta ou um profissional, qualquer que seja a sua área, tenha um sucesso estrondoso, enquanto outros, de desempenho semelhante, ficam para trás?
Ao contrário do que acontece em tantos outros casos, a resposta não é procurada nalguma aventura individual, interpretada segundo os critérios pessoais do autor. Aqui, Barabási e a sua equipa estudaram milhares de casos, em variadíssimas áreas de atuação, de modo a identificar os fatores que levaram, em cada caso, ao estrelato ou à obscuridade.
Desespere – ou relaxe: o seu sucesso não está nas suas mãos
A conclusão central, que informa todo o livro, está sintetizada no título da introdução: “success isn’t about you, it’s about us”. Noutras palavras, não depende apenas do desempenho, da ambição, força de vontade ou atitude de cada um. Não é que esses fatores, os únicos sujeitos ao controle de cada um, não sejam importantes – longe disso. Mas, para que se convertam em sucesso, dependem da maneira como os outros pegam no que que fazemos, e lhe dão, ou não, visibilidade, repercussão, reconhecimento.
Entender como essa interação funciona, e em que casos leva ou não ao sucesso, é o propósito do livro. E é aqui que todo o conhecimento do autor e da sua equipa sobre o funcionamento das redes – neste caso, as redes de relações sociais – é decisivo.
Das cinco leis que governam o sucesso, segundo o livro, logo a primeira é que “o desempenho comanda o sucesso, mas quando o desempenho não pode ser medido, as redes é que o comandam”. E é isso que quase sempre acontece, uma vez que, em boa parte das atividades humanas, o desempenho não é objetivamente mensurável.
Comparar a performance de dois tenistas é fácil: mesmo que seja por um ponto, quem ganhou, ganhou. Mas como decidir qual é o melhor entre dois excelentes vinhos? Entre dois pianistas de altíssimo nível? Entre dois CEOs de topo? Em qualquer destas comparações os critérios podem ser tantos que não há como a subjetividade não se impor – e ela se impõe, sempre ajudada por uma série de fatores contextuais.
Por exemplo: da próxima vez que se candidatar a um emprego, faça o possível para a sua entrevista ser a última. Se não conseguir, pelo menos que não seja a primeira. Segundo ensina o livro, sempre apoiado em muitos estudos, entre candidatos de desempenho comparável a ordem em que são avaliados conta muito.
Outra dica, esta provavelmente já familiar a quem circula pelo social media: sempre que publicar algum conteúdo, dê um jeito para ter feedback positivo logo nos primeiros momentos. Likes atraem mais likes, assim como dinheiro atrai mais dinheiro, e sucesso, em geral, atrai mais sucesso. Somos animais sociais e extremamente influenciáveis: gostamos de seguir a opinião dos outros.
O segredo do sucesso não tem de ser um mistério
Tudo isto pode parecer extremamente injusto, e é – para quem entra na disputa pelo sucesso com a premissa de que a performance é tudo, e deveria sempre ser recompensada. Só que a vida não funciona assim. Mais vale, então, mudar a premissa. Trabalho, ambição e persistência contam, mas, se o objetivo é convertê-los em sucesso – seja este reconhecimento, dinheiro ou qualquer outra métrica externa – os tais fatores contextuais fazem sempre parte do jogo.
Alguns desses fatores são completamente aleatórios: o livro nos conta, por exemplo, como Einstein só se tornou a pop star que todos sabemos por causa de um erro dos jornalistas americanos. Se não o tivessem confundido com outra personalidade que vinha no mesmo navio, seria “apenas” um génio – reconhecido pelos seus pares, mas invisível para o grande público.
A boa notícia é que nem sempre é assim. Uma vez entendidos, alguns desses mecanismos podem ser, pelo menos, influenciados, e o livro dá algumas dicas sobre como o fazer. Isto, claro, se o tal “sucesso” – o seu, o da sua empresa, o dos seus filhos – for o seu objetivo. Mesmo que não seja, The Formula continua a valer a pena. Além de ser uma leitura super divertida, com muitas histórias curiosas pelo meio, o sucesso – nem que seja só o dos outros – vai deixar de ser um mistério para si.