Não gostar de futebol tem algumas desvantagens. Fico de fora de muitas conversas, e às vezes nem faço ideia do que estão a falar à minha volta. Mas também me dá alguns privilégios. Por exemplo, o de ver em toda a sua estranheza alguns fenómenos ligados à bola.
O episódio, por exemplo, que foi notícia há uns meses, da venda do Cristiano Ronaldo para o Juventus. Não é estranho um simples atleta valer tantos milhões para um clube?
Eu sei, o Ronaldo não é “um simples atleta”. E a explicação, como já tinha acontecido na venda de Neymar para o Paris Saint-Germain, costuma vir na semana seguinte.
“Só na primeira semana o clube vendeu 30 milhões em camisolas”.
O jogador nem entrou em campo e o investimento já está no bom caminho para gerar retorno, a uma velocidade impressionante. Porquê? Porque tem muitos fãs. E os fãs são capazes de fazer coisas incríveis para mostrar ao mundo a sua paixão.
Fique tranquilo: não vou sugerir que a sua empresa consiga ter tantos fãs como o Ronaldo. Mas a ideia de ter quem torça por ela – em vez de apenas relações de negócio – pode ser poderosa para o seu negócio.
Só por existirem, todas as empresas criam relações com muita gente. Colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros de negócio, investidores…
Quantos desses vínculos podem evoluir para uma ligação como a que o adepto tem com quem admira?
Há muitas vantagens. O fã do Ronaldo gosta dele mesmo quando erra um pénalti. Mesmo que vá jogar para uma equipa desconhecida. Mesmo quando se aposentar. Entre o ídolo e o adepto há um contrato implícito que tem por ponto de partida o desempenho objetivo, mas que vai muito além disso.
Para a sua marca é importante ter clientes fiéis, mas melhor ainda é ter adeptos. Pessoas que gostam dela, inicialmente, porque aprovam o seu desempenho. Mas que, depois, gostam porque sim.
A ordem, aliás, frequentemente é a inversa: o fã primeiro gosta da marca. Quando a usa é já com uma predisposição favorável, e então aprova, sem surpresa, o seu desempenho.
Isto não torna apenas mais fácil conseguir clientes, colaboradores e parceiros. É também um seguro para os momentos difíceis. Adeptos xingam, reclamam, até podem vaiar, mas relutam em abandonam o seu clube.
Tudo isto também vale para as empresas porque as relações de negócio não se baseiam principalmente na razão.
Fazemos negócio com pessoas com quem nos identificamos. Um adepto é alguém que se identifica – com outra pessoa, com um clube, com um país… Porque não com a sua empresa?
Algumas marcas de consumo têm verdadeiros adeptos. Qual é a diferença, por exemplo, entre passar horas na fila para ser o primeiro a ter um iphone e sofrer por um clube de futebol? Este é o caso extremo, claro, mas há mais, numa escala menor.
Nos mercados business-to-business esta devoção por uma marca é mais rara, mas não há razão para não acontecer. Até porque os recursos para criar e cultivar adeptos nunca estiveram tão ao alcance de todo o tipo de empresas.
Com os meios digitais, todas podem comunicar com uma frequência e intensidade inéditas. Podem mostrar produtos e serviços. Podem partilhar o que sabem. Podem, principalmente, propor às suas audiências algo com que se identifiquem.
Todos nós adoramos criar identificações, juntarmo-nos em torno de algo. Gostamos de ser adeptos: adeptos de uma ideia, de uma causa, de um hábito, de uma forma de ver o mundo, de uma ambição, de um estilo…
Algumas dessas identificações são fluidas e efémeras. Outras são duráveis. Mas todas nascem de algo que alguém partilhou connosco – de um estímulo que nos chega através de algum tipo de comunicação.
Ser a fonte de alguns desses estímulos está perfeitamente ao alcance da sua empresa. Pense nisto: o que é que pode incluir na sua comunicação que permita que alguém se identifique com ela?
Pode ser uma história. Uma opinião. Algo que sabe e que a sua audiência também deveria saber. Algo simples mas suficientemente interessante para justificar um email, um post, um vídeo…
Nunca houve tantas formas de falar com quem é importante para a sua empresa. Sugiro que o faça hoje. E amanhã – e não pare mais. Pouco a pouco, vai ver colaboradores, clientes, parceiros de negócio e até desconhecidos que olham de outra forma para a sua empresa. Começam a admirá-la. A identificar-se. A torcer por ela.
Fonte: Briefing