O seu marketing, o meu micro-ondas, qual funciona melhor?

19 de fevereiro de 2022
Por Jayme Kopke

De uns tempos para cá o meu micro-ondas começou a manifestar uns caprichos. Quando ponho a sopa para aquecer, ele às vezes cumpre zelosamente os dois minutos que marquei. Mas há dias em que o botão, em vez de ir para o zero, vai para o infinito. Se me distraio, arrisco-me a só encontrar no prato uns restos de sopa incandescente.

O meu micro-ondas tem tantos anos de casa que já faz parte da família. Mas sei que, mais dia, menos dia, será descartado. Pessoas têm direito a moods e vontades. Máquinas, não.

E o seu marketing, comporta-se como uma máquina?

O que se quer de uma máquina é que funcione de forma tão previsível como o meu micro-ondas quando era novo. É o que também se espera de toda atividade empresarial: resultados que possam ser previstos e controlados com razoável certeza.

Pensar o negócio como uma máquina é o que explica o sucesso do McDonald’s, da Amazon ou da mercearia da esquina. Se, em certa medida, mesmo a em­presa mais pequena não o fizer, não irá longe.

O que vale para a empresa também vale, claro, para o seu marketing. Se ele não for, até certo ponto, uma máquina, com processos sistemáticos e automatizados, o resultado será aleatório.

Processos como, por exemplo, os que formam o seu funil de conversão: o percurso que, partindo de uma ideia clara dos públicos-alvo, prevê mecanismos para os atrair, captar os seus dados, mantê-los envolvidos até à venda.

São mecanismos que, uma vez montados, devem poder funcionar sem muitas intervenções pontuais. Também devem poder ser medidos e controlados, para se saber o que funciona e o que não, e que peças do sistema – que nível de preço, que anúncio, que landing page – é preciso reparar.

Por outro lado...

“Até certo ponto”… “Em certa medida”… Se, até aqui, fui fazendo estas ressalvas, é porque, por outro lado, nenhuma empresa é uma máquina. Como poderiam, se são feitas de pessoas?

Pessoas até podem – embora, mais uma vez, só até certo ponto – agir como máquinas. Podem ganhar hábitos, automatizar gestos, ou até integrar-se, como uma peça a mais, no funcionamento de outras máquinas.

Desde a revolução industrial, esta nossa aptidão para funcionar como máquinas ganhou uma uma esmagadora importância. Chaplin, em Tempos Modernos, satirizou-a na sua ilustração mais óbvia: o operário industrial. Mas não foi só no chão da fábrica que se deu este empenho de tornar tudo repetível e sistemático. Lá no andar de cima aconteceu o mesmo. Processos de decisão racionais e previsíveis exigiam gestores previsíveis e racionais.

Daí nasceu o típico “homem de negócios”, com seu fato cinzento e, no máximo, uma corzinha (discreta) na gravata. Trata-se de um ser que decide sem erros, sem vieses, sem emoções. Assim como o empregado que nunca adoece nem vai à casa de banho, este gestor ideal só tem um problema: não existe na realidade.

 

Fonte: Dinheiro Vivo

Ver as empresas como meras máquinas tem pelo menos uma consequência ética: torná-las máquinas de gerar infelicidade. E várias outras mais utilitárias. Por exemplo: mesmo enquanto máquinas, as empresas funcionam pior se não têm em conta que são feitas de gente. Gente que, como o meu micro-ondas, comete erros. Mas que, por outro lado, é capaz de inovar ou apaixonar-se pelo que faz. Coisas que o meu micro-ondas, por muito que se engane nas horas, ainda não consegue fazer.

Lembrar-se disto é particularmente importante para quem está no marketing B2B – onde o mito do decisor 100% racional continua vivo. E onde muitas empresas continuam a comunicar com esse mito, e não com os decisores reais: seres sujeitos, como os outros humanos, a emoções, vieses, modas e manias.

Para influenciar esses decisores reais, o seu marketing até pode ser uma máquina – mas só até certo ponto. Pode e deve ter os tais automatismos que lhe darão escala e previsibilidade. Mas precisará também de outros componentes. Empatia. Surpresa. Humor. Autenticidade. Chispa.

Tudo coisas que não são o forte das máquinas. Mas são indispensáveis para seduzir os humanos.

Outros Artigos

partilhe
Facebook
linkedin
Whatsapp
email
fechar
close
Newsletter B2B da Hamlet - A sua fonte de conhecimento e atualização contínua sobre marketing e comunicação business-to-business
Em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados da União Europeia, informamos que ao clicar "Subscrever":
1) Aceita receber as nossas comunicações por email.
2) Autoriza que as informações que forneceu sejam transferidas para o nosso parceiro de marketing Mailchimp para processamento.
Saiba mais sobre as práticas de privacidade do Mailchimp.
close

Newsletter B2B da Hamlet

Precisa vender ou comunicar com empresas ou públicos profissionais? Bem-vindo à Newsletter B2B da Hamlet. A sua fonte de conhecimento e atualização contínua sobre marketing e comunicação business-to-business.
Em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados da União Europeia, informamos que ao clicar "Subscrever":
1) Aceita receber as nossas comunicações por email.
2) Autoriza que as informações que forneceu sejam transferidas para o nosso parceiro de marketing Mailchimp para processamento.
Saiba mais sobre as práticas de privacidade do Mailchimp.