O melhor amigo (e o pior inimigo) do marketing

30 de junho de 2021
Por Jayme Kopke

Se eles não existissem, provavelmente o marketing não seria necessário.

Estou a falar dos hábitos: desse espantoso mecanismo que nos permite automatizar comportamentos ou operações mentais, desde os mais simples, como pôr um pé após o outro para caminhar, até às proezas de perícia de um grande músico ou atleta.

Todo o nosso comportamento, atitudes e conhecimento é determinado pela capacidade de tornar automáticas operações complexas, de modo que não exijam atenção. Aliás, quando se trata desses automatismos a atenção até atrapalha. Experimente dar um laço reparando em cada movimento que faz. Vai ver como fica bem mais difícil.

Naturalmente, para cumprirem essa função de libertar espaço mental, é da natureza dos hábitos terem uma considerável rigidez: quando se colam à nossa vida, colam-se mesmo. O que, por um lado, é perfeito: podemos passar muito tempo sem conduzir ou andar de bicicleta, com a confiança de que o corpo não se vai esquecer. Não é por acaso que a palavra “hábito” está tão próxima de “habitar”: os hábitos são a nossa zona de conforto, onde nos sentimos em casa. Dão-nos segurança, estabilidade, limites.

Só que, pelo mesmo motivo, são também a nossa prisão – como sabe perfeitamente quem, por exemplo, já tentou parar de fumar. E não falo simplesmente dos “maus” hábitos – o que quer que isto signifique para si. Quem já não se apanhou, nos dias a seguir a mudar para uma nova casa, a fazer, em piloto automático, o caminho da antiga? Mudar um hábito quando é preciso pode ser a coisa mais difícil do mundo.

Acontece que boa parte dos desafios do marketing consiste precisamente nisto: levar pessoas a trocarem velhos e confortáveis hábitos por aqueles que lhes queremos propor.

O cliente habituou-se aos bolos, queremos que passe a comer fruta. Viciou-se em sofá e netflix, queremos que saia e venha ao teatro. Ganhou o péssimo hábito de só trabalhar com a concorrência – queremos que pelo menos receba os nossos vendedores. Habituou-se a pensar que todas as marcas de são iguais e a só comprar pelo preço – queremos que considere a hipótese de que a nossa, que é mais cara, vai valer o investimento.

Fonte: Dinheiro Vivo

Se não houvesse a resistência dos hábitos, vender seria bem mais fácil. Bastava ter bons argumentos e pronto. Como não é assim, o marketing é uma trabalheira. Primeiro tem de fazer parar e pensar. Surpreender. Chacoalhar o cliente para que pelo menos saia do automatismo e considere o que lhe temos a oferecer. Depois, repetir e repetir o mesmo estímulo ou mensagem – até que o hábito ceda e dê lugar a um novo.

Não é nada fácil. Requer criatividade, primeiro, teimosia a seguir. Mas compensa – porque, vencida a resistência, o maior inimigo do marketing pode transformar-se em amigo. A ferramenta para essa segunda etapa chama-se marca. O seu papel é tornar todas as reações positivas a um produto ou serviço em automatismos. De preferência, tão fortes que mesmo os argumentos mais lógicos da concorrência terão dificuldade para os extirpar.

E esta forma de funcionar das marcas não vale apenas para o consumo. Mesmo no universo business-to-business, onde as decisões têm a fama de ser mais racionais, elas têm o mesmo poder. Os decisores empresariais não são menos suscetíveis à habituação do que os outros humanos.

No B2B como no B2C, os hábitos são o pior inimigo e o melhor amigo do marketing. Perceber como funcionam, como se criam e como podem ser quebrados é básico para quem tem algo a vender.

Outros Artigos

partilhe
Facebook
linkedin
Whatsapp
email
fechar
close
Newsletter B2B da Hamlet - A sua fonte de conhecimento e atualização contínua sobre marketing e comunicação business-to-business
Em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados da União Europeia, informamos que ao clicar "Subscrever":
1) Aceita receber as nossas comunicações por email.
2) Autoriza que as informações que forneceu sejam transferidas para o nosso parceiro de marketing Mailchimp para processamento.
Saiba mais sobre as práticas de privacidade do Mailchimp.
close

Newsletter B2B da Hamlet

Precisa vender ou comunicar com empresas ou públicos profissionais? Bem-vindo à Newsletter B2B da Hamlet. A sua fonte de conhecimento e atualização contínua sobre marketing e comunicação business-to-business.
Em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados da União Europeia, informamos que ao clicar "Subscrever":
1) Aceita receber as nossas comunicações por email.
2) Autoriza que as informações que forneceu sejam transferidas para o nosso parceiro de marketing Mailchimp para processamento.
Saiba mais sobre as práticas de privacidade do Mailchimp.