Inteligência emocional
O novo filme da Sagres é óptimo. Muito bonito e também bastante oportuno.
Nos tempos que correm, fazer da identidade nacional o eixo central de uma marca tinha tudo para dar para o torto. Ao apoiar-se no lado mais afectivo, logo mais intemporal, dessa identidade (“somos nós”), a Sagres já havia contornado bem o perigo. E agora foi mais longe, com uma leitura emocionalmente inteligente da época que vivemos.
É verdade que Portugal está complicado e, para muita gente, já não dá para viver aqui. Isto, que de muitos pontos de vista é uma tragédia, neste anúncio se transfigura no que também é: uma oportunidade para o país se reinventar. Começando pelo sentimento com que os portugueses mais gostam de se identificar: a saudade, que aqui deixa de ser aquela coisa tristonha, passadista, e se torna um ingrediente da “nossa” alegria e autoestima.
Até pelo estilo da banda sonora, este filme tem muito a ver com o “Menos Ais” da Galp, de 2004. Só que os tempos eram outros. Nessa altura Portugal ainda via o futuro como um desafio a ser vencido. Apesar da crise, que já andava a procurar casa por cá, com “menos ais” era possível ganhar. Pois não ganhamos: Portugal perdeu a final do Euro (para os gregos!) e uns aninhos depois a crise instalou-se de vez. O que restou, então, para celebrar?
Para a campanha da Sagres, muita coisa. A visão implícita é que todas estas circunstâncias, que andam a mandar tanta gente lá para fora, podem ser vividas não como uma derrota, mas como uma retirada estratégica. E que bom que para essa retirada os portugueses disponham de um lugar acolhedor, mas não fechado. Com contras mas com muitos prós. Com cor local mas também cosmopolita. Onde se está porque se tem que estar mas também porque se quer.
Esse lugar, naturalmente, é o mundo. Mas também é Portugal. Parabéns à BAR e à Sagres por nos terem mostrado isso.
Jayme Kopke
da Hamlet