O antídoto para o "Fear Of Missing Out"?

29 de outubro de 2019
Por Jayme Kopke
Numa era de abundância – que é como quem diz, de ruído – a ansiedade de não dar conta de tudo é tão endémica que até já ganhou um nome: FOMO, o famoso Fear of Missing Out. O antídoto? Aceitar que “Missing Out” é inevitável, e ainda bem. Sem esse limite, como definir a sua própria identidade – ou a da sua marca?

Devia ter 12 ou 13 anos, gostava de livros e tinha uma ilusão: a de que um dia, com o tempo, chegaria a ler tudo o que havia para ler. Até que um dia entrei numa livraria, olhei para as estantes e a ilusão desmoronou.

Ainda que passasse todos os meus dias a ler, e mesmo que escolhesse só os livros muito, muito bons, esse dia em que a minha cultura livresca estaria finalmente completa não chegaria nunca.

Isto foi num tempo em que a internet não existia. E em que boa parte dos gurus, thought leaders ou como quer que esteja na moda chamá-los, que hoje povoam as nossas inboxes e redes sociais, talvez ainda nem tivessem nascido. No entanto, mesmo naquela época remota, a informação disponível já ultrapassava, de longe, a capacidade de qualquer ser humano para a absorver.

Como costuma acontecer com as ilusões, livrar-me desta doeu um pouco. A seguir, porém, o sentimento foi de libertação.

Não vou conseguir ler todos os livros do mundo? Perfeito: assim já não tenho de tentar. Em vez de quantidade (com perdão do cliché), posso ficar só com a qualidade. Mais do que ler muito, gostar de cada linha. Aprender. Tirar proveito do que aprendi.

Na nossa era de abundância, que é como quem diz, de ruído, manter este foco é ainda mais importante para conservar a sanidade. Não é fácil: a ansiedade de não dar conta de tudo o que há é tão endémica que até ganhou nome: FOMO, o famoso Fear Of Missing Out.

Para quem, além de consumir, ainda contribui para esse dilúvio informativo – o que é o meu caso, talvez o seu, e o de quem quer que tenha uma marca para gerir – há ainda uma ansiedade simétrica, tão irracional quanto a primeira.

Enquanto indivíduos ou enquanto marcas, gostaríamos que a informação que produzimos – o artigo, o post, a campanha, o podcast – fosse vista por toda a gente. Quem não quer fazer de cada “conteúdo” um hit, ter legiões de seguidores, fazer da sua marca a Kim Kardashian das marcas?

O problema é que, como eu e você, os outros também estão à rasca para dar conta de toda a informação que lhes cai em cima. Também têm de escolher. Logo, por mais brilhante que seja o que você tem a dizer, e por muito que consiga alguns ouvintes, serão sempre bem poucos em comparação com os potenciais interessados.

Assim como nunca lerei todos os livros que importam, também nunca vou chegar a todas as pessoas para quem a minha mensagem poderia ser relevante. Algumas até passarão os olhos pelo que escrevo, mas não lhes apetecerá ler. Algumas até assinarão o meu podcast, apenas para o ignorar logo no segundo episódio.

Que desilusão. E que alívio. Não posso atrair toda a gente? Significa que já não tenho de tentar.

“Missing out” – a impossibilidade de chegar a todas as mensagens, ou a toda a gente com a sua mensagem, é certamente uma limitação, mas pode ser também o solo sobre o qual se constrói a sua marca. Para as pessoas como para as empresas, determinar a própria identidade passa também por definir para quem você existe. Se a sua mensagem é para toda a gente – que é como quem diz, para ninguém em particular – quem é você, afinal?

Mais do que encantar todas as audiências, conquistar todo o mercado, vender a todos os clientes, mais vale ambicionar apenas os que batem certo consigo. Aqueles – mesmo que sejam poucos – para quem a sua mensagem, o seu produto, a sua marca, significam muito.

No seu caso, já parou para pensar quem são?

Jayme Kopke

Diretor-Geral e Criativo da Hamlet

 

Fonte: Dinheiro Vivo

Outros Artigos

partilhe
Facebook
linkedin
Whatsapp
email
fechar
close
Newsletter B2B da Hamlet - A sua fonte de conhecimento e atualização contínua sobre marketing e comunicação business-to-business
Em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados da União Europeia, informamos que ao clicar "Subscrever":
1) Aceita receber as nossas comunicações por email.
2) Autoriza que as informações que forneceu sejam transferidas para o nosso parceiro de marketing Mailchimp para processamento.
Saiba mais sobre as práticas de privacidade do Mailchimp.
close

Newsletter B2B da Hamlet

Precisa vender ou comunicar com empresas ou públicos profissionais? Bem-vindo à Newsletter B2B da Hamlet. A sua fonte de conhecimento e atualização contínua sobre marketing e comunicação business-to-business.
Em conformidade com o Regulamento Geral da Proteção de Dados da União Europeia, informamos que ao clicar "Subscrever":
1) Aceita receber as nossas comunicações por email.
2) Autoriza que as informações que forneceu sejam transferidas para o nosso parceiro de marketing Mailchimp para processamento.
Saiba mais sobre as práticas de privacidade do Mailchimp.