Receita para espantar um cliente
Não deve haver por aí entidade que se preze que não pretenda que o povo – ou seja, você e eu – faça mais exercício. Também não deve haver nenhuma que não nos queira mais cultos: devíamos ler mais, ir mais ao teatro, frequentar mais museus.
Devíamos fazer essas duas coisas. Mas, pelo que percebi este fim de semana, não as duas ao mesmo tempo.
A história é esta: sendo eu uma pessoa bem comportada, que não se importa de fazer o que lhe mandam, lá faço o meu exercício de vez em quando. Pego na minha bicicleta e vou passear à beira Tejo, ali para Belém – onde, por acaso, há um ou outro museu.
E como até gosto de museus, achei que iam ficar contentes se eu parasse para uma visita. Foi o que tentei fazer este Domingo, no Museu de Arte Popular.
Não funcionou. Mal cheguei à porta, lá veio um segurança explicar que com a bicicleta, não. Não podia entrar. Mas eu nem queria entrar: só queria saber se não havia algum sítio para deixar o brinquedo, enquanto eu fazia a visita. Não, não havia.
Deixei então a sugestão: por que é que não fazem como no Museu Paula Rego, em Cascais, que tem um lugar para as bicicletas? Como por ali também passam muitos ciclistas, ficavam com mais visitantes.
O segurança agradeceu a sugestão mas informou que já havia sido feita. Eu não era o primeiro a ser barrado por causa dos meus hábitos saudáveis.
Mas então, se alguém até já havia dado a ideia, por que não fizeram nada? Será tão difícil arranjar um cantinho onde guardar umas bicicletas?
Segui o meu caminho a pensar na desfeita (para mim) e na oportunidade perdida (para o museu). Oportunidade que, se houvesse alguém lá dentro a pensar no assunto, até podia dar origem a outras.
Acolher os ciclistas que viessem espontaneamente já seria um primeiro passo, mas por que não ir mais longe e organizar passeios de duas rodas especificamente para ver museus? Creio que não faltariam parceiros: lojas que vendem bicicletas, empresas que organizam tours pela cidade…
Não sei se estas instituições têm alguém que lhes pense o marketing, ou sequer se têm consciência de que a necessidade de atraírem visitantes é um problema de marketing. E o marketing às vezes faz-se de coisas muito simples.
Neste caso, nada mais do que ouvir o visitante, estar atento aos seus desejos e, principalmente, agir. Pode significar a diferença entre ganhar o “cliente” ou deixá-lo pedalar para bem longe.